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VIDA NA UNIVERSIDADE: SIMPLESMENTE, VIVA!

Atualizado: 24 de fev. de 2021


Já não era tão nova assim, 20 anos e o sonho de fazer faculdade numa universidade pública se concretizava. Foi um misto de alegria, medo e dúvida: será que havia feito a escolha certa? Eu estava entrando para o curso de Farmácia depois de ter passado três anos estudando e fazendo vestibular para medicina.


Sabia que a área da saúde me fascinava, mas após três tentativas frustradas de entrar num curso de medicina e não ter mais condições financeiras para arcar com cursinho pré-vestibular decidi parar e refletir se era mesmo aquilo que eu queria. Creio que Deus me permitiu essa pausa para que eu pensasse mesmo sobre meus sonhos, as renúncias que teria que fazer e se eu estava disposta a ir em frente.


Foi então que coloquei na balança os prós e os contras, e diante de Deus decidi mudar a opção do curso. Naquele ano, como não poderia fazer cursinho, aproveitei a bagagem que tinha obtido nos anos de estudo para medicina e estudei em casa mesmo.


Fiz o vestibular, aliás, naquela época era um pouco diferente dos dias de hoje. Nós fazíamos provas em duas etapas, uma objetiva e outra discursiva que variava com a área de escolha do curso. Passei no vestibular.


Agora começaria o curso de farmácia. Eu ainda não sabia, mas seria uma das épocas mais felizes da minha vida. No início, eu era bem tímida, tinha muito medo de tudo e de todos. Eu dia a dia superava minhas dificuldades e ia vencendo os obstáculos.


Sou de uma família humilde, e mesmo estudando em uma universidade pública ainda tinha os gastos com livros, alimentação e transporte. Deus foi suprindo as necessidades e meus pais lutavam bastante para que conseguisse concluir meu curso, afinal eu tinha irmãs que também estavam em fase escolar, e os gastos eram altos.


O curso foi muito mais interessante e inspirador do que eu podia imaginar. Me lembro muito bem da primeira aula no laboratório de anatomia. Foi fascinante para mim. O professor nos ensinava sobre o respeito que deveríamos ter com aqueles “corpos” que estávamos a estudar.


Eles eram pessoas, tinham famílias e naquele momento estavam sendo úteis para que novos profissionais pudessem adquirir conhecimento que fosse útil à sociedade. As muitas aulas de química foram desafiadoras, precisei superar minhas limitações, estudar muito.


Naquela época confesso que não via muita beleza naquelas aulas, mas agora já no doutorado e ainda estudando, vejo como podemos conhecer mais a Deus através das coisas criadas por Ele. Cada detalhe, tudo tão perfeito. É instigador.


E as aulas de saúde coletiva? Mostraram como é importante pensar no todo e não em um indivíduo. Não é exatamente isso que a Bíblia fala de Gênesis a Apocalipse? Não é exatamente isso que Jesus nos ensina?


A universidade não me ensinou apenas ciência, mas também a ser cidadã e a exercer minha profissão com ética. Um ambiente diverso, com pessoas de todos os lugares e com pensamentos tão diferentes que conseguiam conviver, dialogar e crescer. Talvez muitos que estejam lendo esse texto tenham ouvido falar ou vivenciaram um ambiente mais hostil do que o meu. Mas eu agradeço a Deus por ter encontrado o que encontrei.


Aproveitei as oportunidades que uma universidade poderia proporcionar: fui monitora de disciplinas com bolsa, afinal essa era uma ótima maneira de estudar e ganhar um dinheirinho para me manter lá.


Participei de um grupo de pesquisas que estudava plantas medicinais. Aprendi muito lá, precisei ter autonomia no laboratório e praticar o pensamento crítico. Viajei para outras universidades para apresentar meus trabalhos. Foram momentos inesquecíveis.


Meu curso foi bem intenso, cinco anos de forma integral. Além das aulas práticas tínhamos muitos estágios para fazer. Era bem pesado, e a cada ano que passava eu tinha certeza que queria trabalhar numa grande indústria farmacêutica.


Fiz amigos verdadeiros, amigos estes que após sete anos de formados ainda se falam, se encontram, compartilham momentos felizes e tristes, se preocupam uns com os outros. Tive a oportunidade de participar de um grupo de cristãos universitários, de compartilhar minha fé com estudantes e professores.


Além de estudar eu tinha minha vida pessoal, claro. Participava de atividades em família e na igreja, namorei todo o período da faculdade, e me casei assim que concluí o curso. Conheço muita gente que acaba se atrapalhando um pouco com relação à vida pessoal durante o tempo de faculdade, mas uma coisa não exclui a outra, se estiver sendo assim com você saiba que não está num ambiente saudável e reveja suas prioridades.


Passados os cinco anos lá estava eu, de beca e capelo, primeira da minha família a conquistar um diploma de curso superior, meus pais tão orgulhosos e eu com um sonho na mochila: entrar no mercado de trabalho.


Deus foi conduzindo meus passos, consegui trabalhar numa indústria como eu sempre quis e tive minha primeira experiência profissional lá. Entretanto, percebi que aquilo não fazia meus olhos brilharem cada manhã que acordava para trabalhar.


Sabem, às vezes na nossa vida profissional temos de experimentar mesmo as oportunidades para saber se é realmente aquilo que queremos. E foi o que aconteceu comigo, após um tempo na empresa trabalhando no controle de qualidade eu já não me via feliz fazendo aquilo.


Orei a Deus, pedi seu conselho, conversei com meu marido e decidi sair do emprego e voltar para a universidade, sim, isso mesmo, mas agora para fazer o mestrado. Não foi uma decisão fácil, mas foi a mais acertada que tomei.


Hoje, estou finalizando meu doutorado também numa universidade pública e amo o que faço, amo ver Deus nos detalhes que Ele mesmo criou. O ambiente universitário me impulsiona a pensar, criar, pesquisar. Esse é o lugar onde quero refletir Deus através da minha profissão.


Continuo aquela mesma Michelle sonhadora, apaixonada por descobertas, mas agora mais madura. Deus continua sendo a razão de tudo que faço.


Se você tem um sonho, coloque na direção de Deus, trabalhe duro, persista, lute, viva. Deus quer que sua glória seja refletida em todos os cantos da Terra, o meu papel é refletir a Sua glória na universidade, e o seu?

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